quinta-feira, 4 de agosto de 2011

'' Porque metade de mim é vestibular...e a outra também! ''

Começo com um título inusitado. Parafraseando Clarice Lispector, deixo aqui clara minha revolta com esse temido exame. Pra começo de conversa, ''exame'' . Isso não é uma prova qualquer, ou um testezinho de matemática. Isso é algo que muda a vida de algumas pessoas de uma maneira que eu não consigo entender, sinceramente.
Acho que minhas reclamações sobre, o que eu prefiro chamar de ''isto'', começam a partir do fato de que ''isto'' contradiz seus próprios objetivos. Para ingressar em uma boa faculdade, onde esperam-se alunos de mente aberta, que saibam discutir e relacionar pontos de vista, problemas e soluções sociais, exigem que sejamos aprovados em algo imposto pela sociedade como estilo de vida. Explico. Com 17 ou 18 anos de idade, o que sabemos da vida? O que entendemos por vivência? Por EXPERIÊNCIA? Visto que nossas vidas, nessa idade, são baseadas no esquema ''Renato Russiano'' escola-cinema-clube-televisão, pouco aprendendemos sobre o que é viver, o que é, no sentido pleonástico da expressão, ''viver a vida''.
As faculdades esperam pessoas maduras o suficiente para contribuir com o crescimento de nossa sociedade. E é por isso que acho incoerente exigir isso de pessoas que nem ao menos se sustentam, visto a categoria da maioria de pessoas que prestam vestibular.
Mas a sociedade, os professores, os pais, os próprios alunos, os familiares, os lavradores e os animais cobram isso de nós quando chegamos ao famoso: ''terceiro ano''. E então, muitas vezes me pergunto: por que ?
Por que eu tenho que prestar vestibular esse ano? Por que eu não posso esperar mais um pouco, até decidir o que realmente quero? Por que com 16 anos de idade tenho que escolher o que vou fazer pelo resto de minha vida?
E aí, outras ideias vem derrubar minha teoria.
'' O que você vai fazer da vida, se não for prestar vestibular esse ano? Trabalhar? Ah, claro. Com sua vasta experiência, todas as empresas estão correndo atrás de sua prestação de serviços! Estudar? Morar fora? Você não acha mesmo que seus pais vão arcar com seu prejuízo, sem estar estudando ou trabalhando, não é mesmo? ''
O vestibular está se tornando algo cada vez mais perigoso. Algo que deixa as pessoas, ainda no auge de suas inocências ( se é que posso falar isso nos dias de hoje ) cada vez mais competitivas, crueis, sem carater e desumanas. E eu me pergunto a você professor, a você diretor: são pessoas assim que vocês querem em suas universidades? São profissionais com esses valores que vocês querem disponibilizar para sua sociedade?
Já pensei várias vezes em não prestar vestibular neste ano. Mas penso de novo, e me sinto pressionada, e, é claro, sem saída.
É claro que o vestibular deve existir, não questiono isso em momento algum. Afinal, é a partir dele que ótimos profissionais são formados em nosso país. Só penso que ''isto'' deveria ser, de alguma forma, mais brando, menos intenso.
Vejo colegas e amigos, literalmente, surtando. Não os reconheço mais. Professores também. Alguns, que me acompanham desde pequena, eu desconheço. Desconheço suas atitudes, suas palavras, seus tons de voz ao falarem sobre ''isto''. Essa ditadura deixa todos estranhos, frágeis, e, o pior de tudo: desumanos. Tenho medo.


Bárbara Carneiro

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